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Entrevistamos o novo presidente da DPG

Xurxo Fernández Carballido é licenciado em Filologia Galega e Filologia Portuguesa pela Universidade de Santiago de Compostela e Mestre em Português Língua Não Materna pela Universidade do Minho. Como muitos outros colegas começou a dar aulas de português na Estremadura espanhola, depois foi professor associado de língua portuguesa na Universidade de Vigo e desde 2007 professor e responsável pela secção de língua portuguesa no Centro de Línguas Modernas da Universidade de Santiago de Compostela.

 

  • Que o motivou a dar este passo como presidente da DPG?

 

A DPG não é uma Associação personalista, bem pelo contrário, somos docentes que trabalham em equipa com um interesse comum: promover a língua portuguesa na Galiza no âmbito do ensino. Somos um projeto coletivo e eu sou apenas mais um sócio que assumiu esta responsabilidade com ilusão após vários anos de trabalho dentro da DPG.

 

 

  • Começando pelas ações mais visíveis à data de hoje, a DPG organizou uma campanha com o intuito de reclamar a qualidade do ensino da língua portuguesa na Galiza. Em que consiste e quais são as motivações que a justificam?

 

A nossa campanha pela qualidade na docência da língua portuguesa na Galiza tem como principal objetivo pôr em valor o português na Galiza. A Administração pública deve garantir que o ensino do português, aliás, como de qualquer outra matéria, seja desenvolvida nas melhores condições. A DPG e outros docentes independentes detetaram uma falha nos chamamentos dos professores substitutos para lecionarem português no ensino secundário e mesmo nas EOI. Colegas que são chamados para darem aulas de português sem terem qualquer tipo de conhecimento básico nesta língua.

 

Outro ponto de preocupação é que professores com turmas de português sejam substituídos, pelas lógicas dos concursos e das carreiras profissionais dos professores, por docentes que não podem dar português, o que provoca a desaparição da língua portuguesa nesse centro.

 

Para mais informação e darem o vosso apoio:

https://www.change.org/p/d-jos%C3%A9-manuel-pinal-rodr%C3%ADguez-pelo-ensino-de-qualidade-da-l%C3%ADngua-portuguesa-na-galiza

 

 

  • Ainda no relativo ao ensino de português no secundário, a Conselharia de Educação resolveu, em metade do presente ano académico -no passado mês de fevereiro-, voltar a introduzir nos exames da ABAU uma prova para 2LE cujos conteúdos, no caso de português, ultrapassam o currículo da matéria. A que pensa que é devida esta situação?

 

Sobre as provas do antigo selectivo a Conselharia há muito tempo que improvisa, reparemos que houve reválidas, não reválidas, vários nomes para o selectivo, etc. com fortes protestos de toda a comunidade educativa.

 

No que diz respeito às provas de língua portuguesa, achamos muito injusto, pouco construtivo, que as provas não sejam organizadas, explicadas e resolvidas as dúvidas dos próprios docentes com antecedência.

 

Por outro lado, que as provas de português não avaliem todas as competências ou que ultrapassem as próprias programações docentes, só faz com que angariar alunos para as turmas de português e promovê-la entre a comunidade educativa seja mais difícil, ou seja, acaba por ser conhecida a matéria de português como um cadeirão, com exames de acesso à universidade muito difíceis.

 

 

  • Falando agora em termos mais gerais, em que medida a Lei polo Aproveitamento da Língua Portuguesa tem impulsionado ou dado um pulo ao aproveitamento da língua portuguesa no ensino galego?

 

A DPG teve o seu protagonismo na Lei Paz Andrade, é um fito para a sociedade galega e da qual nos devemos orgulhar, também pelo seu consenso político. Ao mesmo tempo, é evidente que para alguns coletivos o horizonte de espectativas era muito alto e para a DPG o seu desenvolvimento ficou aquém das possibilidades, mas é um quadro jurídico que facilita o nosso empenhamento para a presença da língua portuguesa no sistema educativo galego e na sociedade em geral.

Por isso, devemos ter esta Lei muito presente no nosso trabalho diário, como quadro referencial, mas também para que seja cumprinda.

 

 

  • E colocando-nos já em termos mais históricos, a DPG vem de fazer 10 anos no presente ano 2018, quais foram as principais linhas de trabalho da DPG até o momento? E quais acha foram os principais marcos históricos?

 

Com isto dos aniversários sempre devemos cantar os parabéns! A vida do associativismo é muito dura e sempre há bons e maus momentos, mas o certo é que a DPG sempre manteve uma atividade constante e sempre foi um grupo de docentes com muita ilusão e conscientes do trabalho que faziam e aqui continuamos a trabalhar muitas pessoas, dentro das nossas possibilidades e disponibilidade.

 

Sou sócio desde a primeira hora, convidado pelo colega e amigo Felipe Domínguez Presas, ele também Presidente da DPG. O nosso primeiro presidente foi Maurício Castro, depois o Felipe, o Xoán Manuel Montero e a Antia Cortiças Leira. Todos eles fizeram um trabalho brutal e à volta outras muitas pessoas e sempre com o apoio das sócias e dos sócios.

 

Já no que se refere às atividades, certamente é impossível enumerá-las, mas eu poria em destaque que a DPG é o referente no âmbito do ensino da língua portuguesa para docentes, Conselharia, Instituto Camões, sindicatos e qualquer outro ator à volta do português na Galiza. Isto foi conseguido pelo compromisso, a crítica construtiva e o trabalho em positivo de todos os docentes associados à DPG.

 

 

  • Alguma mudança ou novidade nas futuras linhas de trabalho ou objetivos alvo da DPG a partir de já?

 

Como já referi, a DPG sempre teve uma linha de continuidade, pelo que não vai haver grandes mudanças. Os nossos grandes objetivos continuam a ser:

  • Presença do português no ensino primário.
  • Presença do português no ensino secundário e no liceu (bacharelato) como segunda ou mesmo primeira língua estrangeira.
  • Melhoramento e aprofundamento dos conhecimentos à volta da Lusofonia no âmbito escolar, especialmente nas cadeiras de língua galega, mas não só.
  • Alargamento da presença de conteúdos em língua portuguesa a outras cadeiras, música, economia, história, etc. até porque muitos factos da nossa história, economia e cultura apenas podem ser compreendidos nesse enquadramento de inter-relações.
  • Alargamento da língua portuguesa às delegações das EOI, achamos especialmente necessário no caso da Euro-cidade de Verim.
  • Consolidação da oferta de língua portuguesa nos campus universitários, através dos centros de línguas modernas das três universidades galegas.
  • Melhora da formação de docentes assim como a sua constante reciclagem. Para isso, vamos manter a nossa colaboração com o Instituto Camões, de quem sempre tivemos o seu apoio, nas Jornadas de Didática.

Para tudo isto, é necessário que os diferentes atores mantenham o seu compromisso, a começar pela convocatórias de vagas específicas de língua portuguesa para o ensino secundário e de especialistas na primária, para além da consolidação das turmas que já existem e dos docentes que estão a dar aulas, quer no ensino não universitário, quer no ensino universitário.

Somos realistas, mas somos conscientes de que o nosso trabalho baseia-se nas nossas propostas em positivo e do apoio das nossas sócias e sócios, por isso é tão importante que os docentes de português na Galiza nos associemos à DPG.