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O português no ensino, o português na Galiza

Crónica do encontro no Consello da Cultura Galega

Segunda, 15 Novembro 2010 00:00Atençom, abrirá numha nova janela. em Portal Galego da Língua

Valentim R. Fagim – O evento, organizado polo Consello da Cultura Galega (CCG) na pessoa de Henrique Monteagudo e pola associação Docentes de Português na Galiza (DPG), na pessoa de Filipe Presa, decorreu nas instalações do CCG no Paço de Raxoi, em Santiago de Compostela.

O encontro foi inaugurado por Ramón Villares, presidente da entidade organizadora, que mostrou o muito interesse em estabelecer pontes com o português e a Lusofonia. A seguir dissertou Ana Paula Laborinho, presidenta do Instituto Camões (IC) que frisou a Espanha, e nomeadamente a Galiza, ser um parceiro privilegiado de Portugal. A União europeia devia divulgar línguas internacionais, não só o inglês, e nesse grupo estariam o português e o castelhano. A política externa do IC está dividida em grandes áreas:

a) CPLP, onde a língua se tornou um pilar através de um protocolo, o plano de ação de Brasília, que tem como o objetivo central a difusão do português como língua internacional. O Brasil terá o papel de maior importância e destacou o papel do presidente Lula usando a língua a todos os foros internacionais;

b) Ibero-américa, com a introdução do português LE nos países do Mercosul;

c) África subsariana onde países fronteiriços com os Palop estão a introduzir o português como LE;

d) Magrebe;

e) EUA e Canadá;

f) Ásia, onde Macau funciona como plataforma da comunicação com a Lusofonia. Na atualidade, 17 universidades chinesas oferecem o ensino do português;

g) Europa, onde a relação entre investimentos/resultados é muito fraco. No caso da Espanha, trabalhará-se nas autonomias limítrofes com Portugal. O investimento não será, no entanto, por romantismo mas por eficácia.

Henrique Monteagudo, organizador do evento, indicou que este nascera a pedido de DPG e que na agenda do CCG está a implementação da língua portuguesa no ensino, responsabilidade da Conselharia de Educação da Junta da Galiza. As relações entre a Galiza e Portugal têm que se basear no conhecimento e no reconhecimento e quanto mais sabemos das culturas de Portugal e do Brasil mais sabemos de nós, processo que também se dá na direção contrária.

Filipe Presa, presidente de DPG, expôs com numerosos dados, o panorama do ensino de português na Galiza. Existem 346 centros de ensino secundário e apenas 25 oferecem português. Mesmo estes centros formam uma torre de cartas já que não existem especialistas de português, sendo docentes de outras disciplinas, por iniciativa própria, os que lecionam a língua portuguesa. Filipe Presa apontou que era preciso transformar essa torre de cartas numa estrutura estável mediante a convocatória de vagas.

A seguir abriu-se uma sessão de intervenções. Começou por intervir o professor brasileiro Dante Lucchesi, que notou que na sala se estavam a ouvir três variantes de uma língua comum, o galego-português e que o ensino do português seria um reforço para o estatuto do galego.

O professor português Fernando Venâncio afirmou que a Galiza estava ausente do imaginário português e que havia que trabalhar no caminho de conseguir que o estivesse de uma forma automática. Propôs dous meios muito simples: um livro, a Galiza explicada para portugueses, e um foro galego-português na Internet.

Margarida Ledo, académica da RAG, destacou a necessidade de existir um Instituto Rosalia e que os resultados de uma investigação em que estava envolvida mostravam uma maior recetividade no Brasil do que em Portugal a respeito da Galiza.

O professor da USC José Luís Rodríguez afirmou que se prestigiamos o português prestigiamo-nos a nós próprios e pediu palmas para o facto de os brasileiros prestigiarem a nossa língua por a usarem em todos os contextos. Informou de um simpósio sobre os PALOP, em Abril de 2011, em Santiago, em cuja organização está envolvido.

Ângelo Cristóvão, secretário da AGLP, falou como empresário para notar que não existe melhor investimento no país que o ensino do português com independência de qualquer consideração sobre o facto de o galego ser português ou não ser. Até se podia refletir e dialogar deixando esta questão à margem.

Filipa Soares, da embaixada portuguesa em Madrid, informou que na rede do ensino do português em Espanha, dependente de Portugal, havia 10 179 alunos no curso 2010-2011 e que o interesse do Estado português era que esta língua surgisse como disciplina de opção no sistema curricular. Assinar-se-á um memorando com a Conselharia de Educação que permitirá uma melhor situação do português.

O empresário Enrique Saez começou afirmando que, após a sua experiência no mundo da empresa em Portugal, para ele o galego era um instrumento, um instrumento de uso internacional. A seguir advertiu que a Galiza era um país muito internacionalizado. Quando se entrou na União Europeia, A Galiza tinha 4% da exportação espanhola, e agora tem 8,5%. Às vezes há que tomar as crises como uma oportunidade. O galego não é um obstáculo para o castelhano e o inglês. Polo contrário. É um ativo importante do país. Se for percebido como algo de um grupo minoritário que impõe as cousas, é mau.

Por sua parte, o ex-deputado Camilo Nogueira afirmou que a reunião estava a constatar um movimento que se está a produzir na sociedade galega em relação com o galego e o português. Advogou pola convergência ortográfica entre o galego e o português e defendeu que nas aulas de língua galega se ensinasse as diferença com as variantes de outros países para fomentar o conhecimento.

Luís Tosar, presidente do Pen clube galego, afirmou, por sua vez, que o tal livro a que aludia Fernando Venâncio já existia e fora elaborado pola professora Pilar Vázquez Cuesta.

O ato foi encerrado por Ramón Villares que afirmou a Galiza ser um país com uma língua que se fala nos cinco continentes, riqueza que havia que aproveitar. Notou que na Galiza o assunto da língua era controverso. Na época da Geração Nós parecia que se ia numa direção. Depois, nos anos 50 e 60 esteve lecionando aqui o professor Rodrigues Lapa e houve esforços por estar presentes nos Colóquios Internacionais luso-brasileiros com Celso Cunha e com Guerra da Cal, e com parceiros galegos como Ramón Piñeiro e Carvalho Calero e alguns outros para nos anos 70 isto mudar e haveria que avaliar por quê e quais foram as consequências.

O CCG tem como objetivo estratégico fundamental privilegiar a relação da Galiza com os países de língua portuguesa mas não tem competências sobre a língua que pertencem à Real Academia Galega.

Com as alianças de Portugal e do Brasil poderemos romper esta crosta que nos impede chamar as cousas pelo seu nome, e cada um ser o que quer ser, mas dialogando, não impondo uns aos outros. Não vale dizer “nós somos diferentes do português”, ou não vale dizer “somos iguais”. Os problemas são muito mais complexos. Há os que querem ser iguais, os que querem ser diferentes, os que querem ver muito, ver pouco, e temos de gerir essas diferenças, e isto exige muito diálogo, encontros e reconhecimento.

Entre as pessoas presentes no encontro, para além das já mencionadas, estiveram Anxo Lorenzo, Secretário Geral de política linguística, Rosario Álvarez, diretora do ILG e o escritor Carlos Quiroga.

Entre os próximos eventos que organiza o CCG figura o encontro com José Viegas, diretor da Revista Ler, no dia 16 deste mês e com a Diretora do I. Cervantes, no dia 23.